Gita de Raul Seixas: O Significado Espiritual e Filosófico da Música

 

krishna





"Gita", de Raul Seixas — A Voz do Eu Sou em Cada Um de Nós

Lançada em 1974, a música Gita é um dos maiores marcos da carreira de Raul Seixas, tanto por sua potência musical quanto pela profundidade de sua mensagem. Inspirada no texto sagrado hindu Bhagavad Gita — que significa “O Canto do Senhor” —, Raul trouxe para a canção uma revelação espiritual que, à época (e até hoje), muitos não compreenderam totalmente. A letra, vista por muitos apenas como uma exaltação do ego, na verdade é um chamado ao reconhecimento do divino interior.

A Voz do Eu Sou

“I am...” — “Eu sou...” — é a repetição central da música, seguida por uma série de arquétipos e manifestações do poder divino: “Eu sou o início, o fim e o meio”, “sou o seu sacrifício”, “sou a luz das estrelas”, “sou a luz que se apaga”. Em uma escuta superficial, a letra pode parecer arrogante. Mas, pela ótica espiritual, Raul está canalizando a voz da Consciência Divina que habita em tudo e em todos.

O “Eu Sou” é uma expressão que aparece tanto nas tradições orientais quanto nas escrituras cristãs — “Eu sou o que sou” (Êxodo 3:14) — indicando o Ser Supremo, a fonte de tudo o que existe. Quando Raul canta essa voz, ele está evocando a fala de Krishna no Bhagavad Gita, onde o Deus Supremo revela a Arjuna sua verdadeira natureza: o Todo, o Infinito, presente em cada aspecto do universo.

 

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O Despertar da Consciência

Raul Seixas não estava apenas compondo uma música, ele estava tentando despertar consciências adormecidas. Em uma época dominada por materialismo, repressão política e alienação, ele canta como quem quer gritar ao mundo: "Você é mais do que pensa ser!". A mensagem de Gita é de autoconhecimento, expansão espiritual e unidade com o Todo.

Ele não dizia “eu, Raul, sou isso tudo”. Ele dizia que cada ser humano, ao despertar, descobre que é também a própria Vida em manifestação. Ele convida o ouvinte a olhar para dentro e reconhecer-se como parte da Criação — tão divina quanto qualquer outro aspecto da existência.

A Mensagem que Muitos Não Compreenderam

Muitos ainda associam Gita ao delírio de grandeza ou à loucura de um artista místico. Mas o que Raul fez foi o mesmo que tantos mestres fizeram: trazer à tona a lembrança de quem realmente somos. Vivemos como se fôssemos pequenos, desconectados, perdidos — e Raul nos oferece uma chave: a do “Eu Sou”, da autopercepção espiritual.

A letra confronta o ego comum ao apontar para algo maior: o divino que se oculta até que a alma esteja pronta para reconhecê-lo. Raul compreendeu isso profundamente, e tentou entregar essa visão ao mundo em forma de arte — como mensageiro, como profeta, como canal.

Gita: Um Canto de Unificação

Ao dizer que é a lágrima do homem feliz, a força da imaginação, o medo do fraco e a força do forte, Raul nos lembra que tudo está interligado. Não há separação entre luz e sombra, entre bem e mal, entre humano e divino. Há apenas o fluxo da existência — e o sagrado está em tudo. É por isso que Gita é, ao mesmo tempo, um poema, uma oração e um espelho espiritual.

Gita é a expressão do divino que Raul Seixas acessou — e nos convidou a acessar. É a voz do “Eu Sou” que mora em cada um de nós, esperando ser lembrada. A música não fala sobre um homem acima dos outros, mas de uma centelha que habita todos, e que desperta quando somos capazes de olhar além do mundo visível.

É um hino à consciência desperta — e, para quem ouve com o coração aberto, é impossível permanecer o mesmo depois de compreendê-la.



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