Umbanda e Candomblé: Diferenças, Similaridades, Entidades e Verdades Sobre as Religiões Afro-Brasileiras
Umbanda e Candomblé: Tradições Afro-brasileiras de Fé, Cultura e Resistência
Umbanda e Candomblé são religiões afro-brasileiras frequentemente confundidas entre si ou, pior ainda, injustamente associadas ao termo “macumba”, usado de forma pejorativa. Ambas são práticas espirituais profundas, ricas em simbolismo, ancestralidade, conexão com a natureza e respeito aos orixás e entidades espirituais. Neste artigo, vamos esclarecer o que é cada uma, suas diferenças e semelhanças, sua origem e o papel das entidades espirituais em suas práticas.
O que é a Umbanda?
A Umbanda é uma religião brasileira, nascida oficialmente no início do século XX, por volta de 1908, com o médium Zélio Fernandino de Moraes, no Rio de Janeiro. É uma tradição espiritual sincrética que une elementos do catolicismo, espiritismo kardecista, religiosidade africana e cultos indígenas. Na Umbanda, cultuam-se os orixás, mas também há um papel central para espíritos desencarnados que atuam como guias espirituais.
Entidades da Umbanda
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Pretos-velhos: espíritos de antigos escravizados que transmitem sabedoria e conselhos com humildade.
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Caboclos: espíritos de indígenas brasileiros, conectados com a cura e a força da natureza.
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Crianças (Erês): representam a pureza e a alegria.
Exus e Pombagiras: espíritos que atuam na linha da justiça, proteção e equilíbrio, muitas vezes mal interpretados como “entidades do mal”.
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O que é o Candomblé?
O Candomblé é mais antigo e estruturado, com raízes nas religiões tradicionais africanas trazidas ao Brasil pelos povos escravizados, especialmente das etnias iorubá (nagô), jeje e banto. Desenvolveu-se entre os séculos XVIII e XIX principalmente na Bahia. É uma religião iniciática (exige iniciação) e politeísta, com culto centrado nos orixás, divindades africanas que representam forças da natureza e arquétipos humanos.
Orixás do Candomblé
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Oxalá: orixá da criação, ligado à paz e à fé.
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Iemanjá: rainha dos mares, mãe de muitos orixás.
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Ogum: guerreiro, senhor dos caminhos e do ferro.
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Xangô: orixá da justiça e dos trovões.
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Oxum: deusa da beleza, do amor e das águas doces.
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Iansã: senhora dos ventos e tempestades.
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(E muitos outros, cada um com suas oferendas, cores, alimentos e ritmos específicos.)
Diferenças entre Umbanda e Candomblé
Aspecto | Umbanda | Candomblé |
---|---|---|
Origem | Brasil, século XX | África, desenvolvido no Brasil a partir do século XVIII |
Base espiritual | Sincretismo com catolicismo, espiritismo e religiões indígenas | Tradições africanas puras (especialmente iorubá, jeje e banto) |
Entidades | Espíritos desencarnados (pretos-velhos, caboclos, exus) + orixás | Culto exclusivo aos orixás (não há atuação direta de espíritos desencarnados) |
Ritualística | Mais simples, aberta ao público, incorporações frequentes | Complexa, com rituais fechados, iniciações, sacrifícios rituais e hierarquia |
Incorporação | Guias espirituais (espíritos) se manifestam | Orixás se manifestam através dos iniciados |
Similaridades entre Umbanda e Candomblé
A Incorporação e os CentrosNos centros de Umbanda, as giras (sessões espirituais) costumam ser abertas ao público. Os médiuns incorporam entidades que transmitem mensagens, realizam passes de limpeza energética, orientações e bênçãos. Há velas, pontos cantados, defumações e oferendas simbólicas (flores, frutas, bebidas). No Candomblé, a incorporação dos orixás ocorre em rituais específicos, especialmente nas festas públicas (toques) ou cerimônias internas (ritos iniciáticos). Os orixás se manifestam nos iniciados, dançam e se expressam conforme sua natureza e energia. Exu e Pombagira: Justiça e Proteção, Não MaldadeExu é o mensageiro entre o mundo material e espiritual. Representa a energia do movimento, da comunicação e da justiça. Na Umbanda, os Exus e Pombagiras são entidades que viveram na Terra e hoje atuam em linhas de proteção, desmanche de demandas e reequilíbrio de energias. Não são demônios nem forças do mal, como o preconceito quer fazer crer. PombagiraÉ uma entidade feminina de grande força, sensualidade, sabedoria e independência. Ajuda questões ligadas ao amor, autoestima, justiça e libertação. É comum que mulheres encontrem nela um espelho de empoderamento espiritual. A Força das Entidades: Existe Hierarquia de Poder?Não se pode dizer que uma entidade é “mais forte” que outra. Cada uma atua conforme sua vibração, missão e campo de trabalho. Uma Pombagira pode ser extremamente eficaz em questões emocionais, enquanto um Preto-velho pode trazer consolo e cura para feridas da alma. Um Orixá pode reorganizar uma vida inteira com sua força. O importante é o mérito espiritual e a necessidade do consulente. O Erro de Chamar Tudo de “Macumba”O termo “macumba” originalmente designava um instrumento musical africano. Com o tempo, passou a ser usado de forma pejorativa para qualquer prática religiosa afro-brasileira. Dizer “isso é macumba” para Umbanda ou Candomblé é desrespeitoso, racista e reducionista. São religiões legítimas, reconhecidas e protegidas por lei no Brasil, com grande riqueza filosófica e espiritual. Fé, Respeito e Desconstrução de PreconceitosTanto a Umbanda quanto o Candomblé são expressões autênticas da alma brasileira. Elas são caminhos de cura, resistência, ancestralidade e espiritualidade profunda. Conhecer suas bases é o primeiro passo para respeitar e, quem sabe, se abrir para experiências transformadoras que unem o visível ao invisível, o humano ao divino, o presente ao eterno. Seja em uma gira de Umbanda ou em um toque de Candomblé, o que se busca é a mesma coisa: reconexão com o sagrado.
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