O Que é Alquimia? Uma Jornada de Transformação Interior Segundo Carl Jung
A alquimia é frequentemente associada à tentativa medieval de transformar metais comuns em ouro ou criar o "elixir da longa vida". Mas, para o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, a alquimia era muito mais do que isso: era uma linguagem simbólica que falava sobre a transformação da alma humana.
Jung entendeu que os alquimistas, ao descreverem seus processos químicos, na verdade expressavam inconscientemente estágios do desenvolvimento psicológico e espiritual do ser humano. Eles usavam símbolos para descrever experiências interiores — uma verdadeira jornada de autoconhecimento, que ele chamou de processo de individuação.
Essa jornada é composta por várias fases simbólicas. Vamos conhecê-las de maneira simples e profunda:
1. Calcinatio – A Queima do Ego
A palavra vem de "calcinar", ou seja, reduzir algo a cinzas pelo fogo. Na alquimia, representa o calor que transforma a matéria bruta.
No campo psicológico, simboliza a purificação pelo fogo da consciência. É quando passamos por experiências intensas que nos obrigam a enxergar nossas ilusões, vaidades e máscaras. É a dor que queima as falsas identidades do ego.
Exemplo: Uma perda, crise ou sofrimento que nos obriga a repensar quem somos e o que realmente importa.
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2. Solutio – Dissolução do Eu
"Solutio" significa dissolver, como quando o sal se desfaz na água. Aqui, os limites sólidos do ego começam a se desfazer.
Psicologicamente, representa a entrega, o abandono do controle e a imersão nas emoções, no inconsciente. É o momento de soltar o racional, deixar-se levar pelo fluxo interior e acessar conteúdos profundos e ocultos.
Exemplo: Sonhos intensos, choros profundos, momentos de rendição ou conexão espiritual.
3. Coagulatio – Voltar a Ser
Coagular é tornar algo sólido novamente. Após a dissolução do ego, algo novo começa a se formar.
Essa fase representa a integração de uma nova consciência, mais verdadeira, mais alinhada com a alma. O que antes era fragmentado, agora começa a tomar forma.
Exemplo: Redescobrir valores, encontrar propósito, sentir-se mais inteiro após uma fase difícil.
4. Sublimatio – A Elevação
Sublimar é transformar a matéria sólida em vapor, elevando-a. Na alquimia, é o movimento ascendente da alma.
Na psicologia junguiana, representa a elevação da consciência, a capacidade de ver a vida de forma mais ampla, espiritual e simbólica. É a visão superior que nos permite compreender o sentido das experiências.
Exemplo: Meditações, insights profundos, compreensão do propósito por trás da dor.
5. Mortificatio – A Morte do Antigo
Literalmente, “mortificação” é a morte simbólica. Aqui, o que não serve mais precisa morrer.
Essa fase é dolorosa, mas essencial. Representa o fim de antigos padrões, crenças, comportamentos e até relacionamentos que não contribuem mais para o crescimento da alma.
Exemplo: Terminar um ciclo de vida, encerrar uma carreira, deixar uma identidade para trás.
6. Separatio – Separar para Unir
É o processo de separar o essencial do superficial, distinguir a luz da sombra.
Jung via essa fase como o momento em que aprendemos a olhar nossas partes internas com clareza, separando o que é verdadeiramente nosso daquilo que foi imposto ou herdado.
Exemplo: Reconhecer traumas, sombras e talentos ocultos com honestidade e discernimento.
7. Coniunctio – A União dos Opostos
A etapa final. É a união alquímica entre o sol e a lua, o masculino e o feminino, o consciente e o inconsciente.
Na psicologia de Jung, é o casamento interior, onde nos tornamos inteiros, integrando todas as partes do nosso ser — luz e sombra, razão e emoção, corpo e alma. Essa união gera um novo ser: o Self, o centro da nossa totalidade.
Exemplo: Sentir-se pleno, autêntico, em paz com todas as partes de si. É a realização do verdadeiro propósito da alma.
A Alquimia é um Caminho Vivo
Essas fases não acontecem necessariamente em ordem, e nem uma única vez. Elas se repetem em diferentes níveis e momentos da vida, como ciclos de morte e renascimento internos.
A alquimia, então, não é uma ciência do passado, mas uma linguagem simbólica da alma, uma forma de entender os mistérios do crescimento humano e espiritual. Carl Jung traduziu essa linguagem para que possamos usá-la hoje como ferramenta de autoconhecimento profundo.
"A alquimia é o sonho de transformação de cada alma em ouro interior." – livre interpretação junguiana
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