“Santo de Casa Não Faz Milagre”: A Cegueira de Quem Vê de Perto
Existe um ditado popular, repetido geração após geração, que diz: “santo de casa não faz milagre”. À primeira vista, pode parecer apenas uma constatação irônica sobre como as pessoas tendem a valorizar mais o que vem de fora. Mas, se olharmos com mais atenção, essa frase carrega uma verdade dolorosa e, ao mesmo tempo, profundamente espiritual.
Quantas vezes você já ofereceu ajuda, orientação ou até mesmo um talento com amor e entrega, e foi ignorado? Ou pior, desacreditado? Quantas vezes você viu outras pessoas serem aplaudidas por fazerem exatamente aquilo que você já fazia, mas era invisível aos olhos de quem convive com você?
Por que isso acontece?
A resposta pode estar na forma como o ego e o costume moldam a percepção humana. Quando alguém está próximo de nós, enxergamos também suas falhas, seus momentos de fraqueza, suas imperfeições humanas. Mas esquecemos que a luz não deixa de brilhar porque está envolta por carne. Julgamos a essência pela aparência. E nos esquecemos que o divino habita o imperfeito.
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Cristo passou por isso. Ele mesmo afirmou: “Nenhum profeta é aceito em sua própria terra” (Lucas 4:24). Os que o viram crescer, brincar, aprender a andar e a falar, não conseguiram acreditar que ali habitava o Messias. Eles esperavam um enviado do céu, envolto em glória, não um carpinteiro comum, filho de José. E por isso… o humilharam.
Mas o que Cristo viveu, muitos vivem até hoje.
É mais fácil diminuir do que reconhecer.
Porque reconhecer o brilho do outro exige humildade.
Exige dizer: “eu te admiro”, “você me inspira”, “você está crescendo, e isso me desperta algo”.
E nem todos estão prontos para lidar com o incômodo que a luz do outro provoca na própria sombra.
A grama do vizinho parece mais verde, não porque seja mais bem cuidada, mas porque é mais fácil idealizar de longe do que enxergar com verdade de perto. À distância, não vemos os esforços, as dores, os sacrifícios. Vemos apenas o brilho final. Já perto… vemos o humano. E muitos não estão preparados para ver o divino emergir do humano. Então duvidam, criticam, rejeitam.
Mas é preciso coragem para ver com os olhos da alma.
Quando passarmos a enxergar nossos irmãos com os olhos do espírito, algo se transforma. A superficialidade cede lugar à reverência. O despeito é dissolvido pela empatia. A inveja se transmuta em inspiração. Porque onde há amor, há reconhecimento. E onde há reconhecimento, há milagre.
A verdade é que o milagre acontece, sim, em casa.
Todos os dias.
Mas só vê quem tem olhos de ver.
Só reconhece quem já começou a reconhecer a própria luz.
Portanto, antes de duvidar da grandeza de quem está ao seu lado… silencie. Observe. Sinta.
Talvez você esteja diante de um coração que carrega respostas, cura, sabedoria.
Talvez você esteja diante de um santo.
E talvez, só talvez…
o próximo milagre esteja bem aí — dentro da sua casa, do seu convívio, da sua família.
Basta abrir os olhos certos para enxergar.
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