Do Sagrado ao Perseguido: Como as Curandeiras e Sacerdotisas Foram Chamadas de Bruxas e Como Reacender o Feminino Ancestral

Santa Sara Kali

As Guardiãs do Sagrado: Como as Mulheres Curandeiras se Tornaram "Bruxas"

Durante milênios, as mulheres exerceram papéis essenciais na vida espiritual, medicinal e emocional das comunidades. Elas eram curandeiras, parteiras, sacerdotisas, conselheiras, místicas, intérpretes da natureza e mensageiras do invisível. No entanto, com o avanço das religiões patriarcais e estruturas de poder dominadas por homens, essas mulheres passaram a ser perseguidas, silenciadas e rotuladas como "bruxas" — um rótulo que carregava medo, punição e exclusão.

O Silenciamento da Sabedoria Feminina

Em muitas culturas antigas, a mulher era vista como um canal entre a Terra e o Céu. Detentora do dom de gerar a vida, de entender os ciclos lunares, de trabalhar com as ervas e de guiar almas, seu saber era respeitado. Mas a consolidação das religiões monoteístas, sobretudo o cristianismo institucionalizado a partir do século IV, passou a combater qualquer prática que se desviasse da doutrina oficial. O que antes era visto como sagrado tornou-se heresia. O que era ritual tornou-se feitiçaria. O que era sacerdócio feminino, virou perseguição.

 

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Mulheres que Persistiram: Sacerdotisas da Luz e do Mistério

Mesmo diante da opressão, algumas mulheres mantiveram viva a chama do sagrado feminino. Elas foram chamadas de bruxas, feiticeiras, possuídas — mas eram, na verdade, guardiãs da alma do mundo.

  1. Maria Madalena (século I d.C.) – A Sacerdotisa Crística

  • Época: Palestina/Roma Antiga – século I

  • Papel: Discípula direta de Yeshua (Jesus), portadora dos ensinamentos do Cristo Interior

  • Missão: Ensinar o caminho da união sagrada entre o masculino e o feminino, revelar o amor como força de transmutação

  • Desfecho: Sua imagem foi distorcida como prostituta arrependida, mas sobreviveu nos evangelhos apócrifos e tradições gnósticas. Hoje, é redescoberta como símbolo da mulher iniciada nos mistérios espirituais.

  • Discípulos hoje: Mulheres e homens que seguem o Caminho da Rosa, do Sagrado Feminino e do Amor Crístico.

  1. Santa Sara Kali (por volta do século I–III) – A Feiticeira Cigana da Terra e das Águas

  • Época: Provável origem egípcia ou cigana, chegada ao sul da França com discípulas de Jesus

  • Papel: Protetora dos ciganos, sacerdotisa das águas, representante do feminino marginalizado e ancestral

  • Missão: Proteger os marginalizados, guardar os mistérios da fertilidade, da natureza e da intuição

  • Desfecho: Venerada em Saintes-Maries-de-la-Mer, na França, mesmo sem reconhecimento oficial da Igreja

  • Discípulos hoje: Praticantes de espiritualidade cigana, religiões naturais, mulheres conectadas aos ciclos lunares, curandeiras e dançarinas sagradas.

  1. As Völvas e Druidesas (Europa Antiga, séculos anteriores ao Cristianismo) – As Profetisas da Terra

  • Época: Presente nas culturas nórdicas e celtas antes do século V

  • Papel: Videntes, guardiãs dos rituais sagrados, curandeiras e transmissoras do conhecimento ancestral

  • Missão: Manter o equilíbrio entre os mundos, celebrar os ciclos da natureza e proteger a sabedoria do clã

  • Desfecho: Foram perseguidas com a chegada do cristianismo e apagadas da história oficial. No entanto, sua sabedoria foi preservada na tradição oral e em lendas.

  • Discípulos hoje: Mulheres que seguem a Wicca, tradições druídicas, paganismo moderno e espiritualidade da terra.

 

A Ferida da Desconexão

Com a caça às bruxas na Idade Média e Renascença, centenas de milhares de mulheres foram queimadas, enforcadas ou torturadas. O medo se enraizou no inconsciente feminino coletivo. Por séculos, as mulheres foram ensinadas a desconfiar de sua intuição, reprimir seu poder e negar sua conexão com o sagrado. Essa ruptura espiritual criou desequilíbrio, tanto nas mulheres quanto no planeta.

O Renascimento do Feminino Sagrado

Nos tempos atuais, estamos vivendo um movimento de reconexão com esse saber ancestral. Mulheres estão redescobrindo sua natureza cíclica, curando suas feridas de repressão e retomando os caminhos da alma. Muitas se reconhecem como descendentes dessas sacerdotisas e feiticeiras do bem.

Como se reconectar com a cura e o feminino sagrado:

  1. Resgatar sua ciclicidade: acompanhar os ciclos lunares e menstruais

  2. Estudar as sabedorias antigas: tradições da Deusa, mitologia, alquimia, espiritualidade ancestral

  3. Praticar rituais e oferendas à natureza: simples ou elaborados, em honra aos elementos

  4. Meditar e silenciar: ouvir a voz interna da intuição, do ventre e do coração

  5. Curar a linhagem feminina: compreender as dores herdadas das ancestrais

  6. Reverenciar as mulheres que vieram antes: como Maria Madalena, Santa Sara, as druidesas e curandeiras

 

O que foi rotulado como "bruxaria" muitas vezes era apenas o uso consciente da energia vital, do amor, da medicina natural e da espiritualidade feminina. Hoje, ao retomarmos essa linhagem de cura, não estamos apenas nos curando individualmente, mas também ajudando a curar a Terra. Somos os frutos das sementes que essas mulheres corajosas plantaram — e agora é tempo de florescer.

Que a feiticeira sagrada em ti desperte. Que a voz da sacerdotisa volte a ecoar. Que o feminino, em toda sua luz e mistério, se manifeste em tua vida. 🌹

 

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